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São grandes e numerosos os deveres de cada homem no curso tormentoso da vida no universo. Esses deveres estão intimamente ligados não só às coisas mínimas como as mais grandiosas, dada a complexidade fonomênica que entrelaça os planos, as esferas e todos os seres.

Da vibração atômica ao micróbio, do micróbio ao homem, do homem ao santo, ao anjo, ao arcanjo, palpitando nos abismos insondáveis, nos espaços interplanetários e nos mundos, nas nebulosas e nos soes gigantescos, nas regiões deslumbrantes ou nos círculos misteriosos das dores e das angústias, a Lei reguladora do dever e da vida interliga tudo e não deixa escapar coisa alguma, desde os pensamentos mais recônditos aos atos mais espantosos e vibrantes. O dever sempre o dever, aqui, é além, é o que nos cabe atender e cumprir, por mais duro que seja, sob pena de prolongar a nossa permanência no perímetro tenebroso em que vivemos.

Estaremos nós, os espíritas, cumprindo fielmente os nossos deveres? Teremos feito esforços reais para alcançar a libertação espiritual, na proporção do conhecimento que já possuíamos? Não estaremos retardando um trabalho pertinaz e profundo, de união, concórdia, estudo e compreensão, de que possa advir para a humanidade uma fase de vida social mais tranqüila, mais fecunda e mais feliz?São perguntas que poderíamos desdobrar em minúcias, numa intérmina sucessão de idéias, mas que só poderão ser respondidas pela consciência de cada um. As respostas aplicadas à sociedade é que nos poderiam dar obras como frutos decorrentes da meditação

 

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Os espíritas têm feito alguma coisa para melhorar o ambiente planetário. Não há dúvida. Por espírito de caridade as suas obras aí estão, traduzindo efetivos sentimentos de amor ao próximo, numa imensa multiplicação de benefícios morais e materiais. Mas, infelizmente, o que temos feito em extensão, não tem sido correspondido em profundidade e coesão. Falta-nos dar provas reais, e não apenas formais, de que, adeptos do Espiritismo, estamos unidos pelo amor fraternal que pregamos. Como dar essas provas? Abandonando prevenções, arquivando queixas e magoas, estudando e resolvendo nossas deficiências, perdoando ofensas, evitando erros, abusos e excessos, coordenando o trabalho, impedindo o tumulto, combatendo os vícios, esclarecendo dúvidas, iluminando a sociedade com os ensinamentos do Cristo, e, sobretudo, provando que, espíritos imortais, reencarnando até conquistar a libertação, desejamos viver o Evangelho, realizando-o em sua máxima plenitude.

Temos, todos nós, uma grande missão a cumprir a teimosia de uns, a má vontade de outros e a incompreensão de muitos, estão retardando a consolidação de uma grande obra que, se não tomarmos cuidado, poderá ser destruída pelo tufão da adversidade.

Impõe-se uma aproximação geral interna, imediata, para podermos estabelecer a Comunidade Espírita Mundial. (*) Essa obra tem de ser estabelecida no Brasil. Os recursos materiais existem, o arcabouço também. O que nos falta é um movimento grandioso e profundamente fraternal que elimine os embaraços e nos irmane definitivamente para o bem.

Não basta pregar, é necessário exemplificar. De que nos servirá encher o país de asilos, hospitais, sanatórios, abrigos, etc., e de milhares de Centros Espíritas, se não soubermos preservá-los das formas experimentais grosseiras, se não soubermos corresponder ao amor que Jesus nos dedica, se não soubermos trabalhar pela reforma da sociedade, extinguindo a miséria moral e material que ocorre?

Aí ficam as perguntas para meditação e resposta de todos os que se considerem responsáveis perante as Leis de Deus.

 

 

Lins de Vasconcellos

9 de julho de 1949

Jornal Mundo Espírita